Quando sonhava em ter um filho, pensava que era surreal essas mães que abandonam suas carreiras para cuidar das crianças, para mim isso nada mais era que uma mulher se anulando ao se tornar mãe. Por que raios essa mulher não poderia continuar sendo ela mesma, tendo sua carreira e sendo uma boa mãe??? Por que uma coisa teria que anular outra? Por que um momento tão pleno e sonhado na vida de uma mulher teria que acabar com tudo que ela conquistou antes de se tornar mãe?
Aí engravidei e tive que ficar de repouso por algumas complicações, enquanto eu estava em casa pensava: "
Assim que Theo completar 4 meses volto a trabalhar, não aguento ficar em casa." Ele nasceu e ao completar 4 meses eu não tive coragem de entrega-lo aos cuidados de ninguém e decidi cuidar dele até ter uns 2 anos e poder ir para uma creche com o mínimo de independência, mas tem sido muito difícil essa espera.
Comecei a trabalhar aos 16 anos, sempre tive meu dinheiro, mesmo que pouco e nunca fiquei mais que 1 semana desempregada. A falta que tem me feito produzir, sair de casa de manhã, trabalhar, estudar, ter meu dinheiro, comprar coisas para mim, tomar um cafezinho no fim da tarde em alguma cafeteria no centro da cidade e vir para casa de ônibus ouvindo minha músicas favoritas no mp3 tem me consumido.
Eu acordo e já penso: "
Mais 1 dia cozinhando, limpando, lavando a interminável louça e tentando entreter uma criança de 8 meses que se entedia em 5 minutos."
As vezes eu simplesmente não estou afim de cantar e fazer palhaçadas para alegrar meu filho o dia inteiro, ou ver Galinha Pintadinha pela 2.87650 vez, queria poder produzir algo de "adulto". Eu vejo meu marido saindo para trabalhar e penso no quanto ele é sortudo, porque sabe que Theo estará seguro, já que sou eu que estou cuidando dele e ainda pode trabalhar o dia todo e
curtir Theo nos fins de semana. Porque eu, não apenas curto meu filho, eu curto, mas também alimento, faço o entretenimento, dou banho, trocos infinitas fraldas enquanto levo chutes e por aí vai. [Antes que joguem pedras, não estou reclamando, pelo contrário, amo cuidar do meu filho porque sei que vou fazer perfeito, mas
ficar restrita apenas a isso 24hs é minha dificuldade]
Ao conversar com marido simplesmente tive a resposta que eu esperava, já que meu marido é extremamente compreensivo. Ele disse que entende, que não quer me ver assim, que sou ativa e que era para eu ligar para creches e ver o preço. Simples assim!
E agora estou aqui me sentindo a pior das criaturas, a pessoa mais ruim do planeta, porque não quero trabalhar porque preciso de dinheiro, meu marido não é rico, nosso orçamento é limitado,não temos luxo, mas tem dado para levar, quero trabalhar porque
sinto falta DE TRABALHAR, de acordar, me arrumar, colocar uma roupa legal, produzir dinheiro, progredir profissionalmente, crescer. É diferente das mães que deixam seus filhos em creche por necessidade. Eu não tenho essa necessidade. Me sinto trocando meu filho pelo mundo. Deixando ele com outras pessoas para ser feliz fazendo outra coisa. Que tipo de mãe faz isso. Sou abominável =(
Em creche ele ficará jogado, pois duvido que alguém se esforce para entreter um bebê, ninar com carinho para dormir, dar comida com cuidado e também tenho medo que ele pegue doenças...falando nisso, quando ele ficar doentinho será que vão medicar direito, cuidar direito??Isso se aplica a cheche e a babá, que seja...não sendo eu, será que vão fazer direito??
Escrevo enquanto escuto o choro incansável dele dentro do cercado, pois hoje, como a maioria dos dias, ele se entedia rápido e só quer colo, nada está bom..aí saio com ele e mais choro no carrinho, gritos, joga chupeta, tira as meias e joga no chão até eu desistir e tira-lo do carrinho e segura-lo no colo pela rua, o que me cansa, lógico e acaba com a graça do passeio. Ou seja, em creche vão ter paciência com meu bebê? Vão dar colo ou vão deixa-lo chorando? Babá terá paciência? Porque eu tenho e muita, sou a mãe e o amo, mas os outros terão?
Me sinto uma prisioneira, ele não tem culpa de nada, mas eu não aguento mais não trabalhar, viver enclausurada, sem poder progredir, com dias iguais, sentindo falta dos 13 anos em que trabalhei, conquistei meu espaço, estudei, progredi, tive desafios e venci. Hoje coloquei alguém no mundo que não posso simplesmente deixar de lado e seguir meus sonhos, afinal, ele é um dos meus sonhos também, alguém que veio porque eu sonhei e quero que ele seja o mais feliz possível. E agora?
Culpa. Muita culpa, porque amo meu filho demais e queria ser a melhor mãe para ele...junto com uma vontade que não some de voltar a ser uma profissional urgente.